Minha vida como princesa? Um #tbt inesquecível

 O que eu aprendi nisso tudo é que “por que preciso de um príncipe para criar a falsa ilusão de um felizes para sempre se eu nem sei o que estar por vir nesse ‘sempre’?”.
Não era errado casar ou namorar, mas eu sentia a necessidade de ir além disso. Talvez me firmar em algo sério quando eu realmente sentisse a necessidade disso e, não fazer isso por pressão ou qualquer afins que a imprensa se dirigia a mim. Eu simplesmente entrei na pilha do estou 100% nem aí e agora, eu posso até estar com uns noventa por cento ligando para a opinião dos outros, mas amanhã não possa estar... Sim, eu sou inconstante e é o que eu mais admiro em mim, a contrariedade de poder ser o que eu sou e ir errando e aprendendo.
Nem todos os dias eu posso ter a mesma opinião e isso de fato é um direito meu.
E vivi até quando pude viver. Sem causa, finalidade, ação ou consequência, mas vivendo intensamente cada segundo e experimentando diversas coisas. Porque se antes era “a intocável”, hoje acredito que eu mesma possa descer de um pedestal inexistente e dar as mãos a quem quiser viver como eu, mas simplesmente seguindo o seu jeito.
Não obstante, eu aceitei um desafio novo proposto pela jornalista de uma revista feminina chamada “Upgrade”. Cecília Gosson me ajudou a popularizar a minha imagem pelo que eu era. Ela perguntou se seria possível fazer comigo uma viagem de um diário de bordo por telefone. Eu obviamente aceitei.
Foi numa época que eu estava com a vida um pouco conturbada, já que por causa de certos trabalhos na televisão, como comerciais, as pessoas começaram a me ver como uma princesa. 

Nesses dias eu cheguei a assinar meu nome mais de cem vezes. Todos os dias mais de CEM vezes. O que eu achava totalmente louco, mas era legal a sensação. Nada era feito sem que eu consultasse a minha agenda, tipo médico, estudo, doutorado, aniversário e viagens.
Às vezes eu chorava de cansaço, mas tudo bem. Era apenas por quatro dias que a minha rotina mudou. Oito guarda-costas não desgrudavam do meu pé quando ia fazer coisas corriqueiras e assim, me sentia uma Whitney Houston.  Meio Michele Obama e também, não poderia deixar de citar uma Meghan Markle em mim.
Agora eu precisava remarcar tudo, desde um dentista, médico, terapia e estudos. Eu tive um piripaque, fiquei muito sono diversas noites e também tive medo da rotina que me abraçara e ainda assim, domei uma gastrite nervosa.
        A assessora de imprensa queria uma maquiadora própria e uma manicure e também, que eu          pudesse remarcar compromissos diariamente, por ter compromissos que não podia remarcar,          pois agora toda a TV queria que eu me tornasse exatamente um fenômeno, uma descoberta,          uma coisa inusitada. E eu não queria.
 Eu tinha dedos encravados. Nos dois dedões dos pés. E para isso, eu necessitava de uma manicure para cortar. Na realidade, não gostava de cortar minhas unhas dos pés, estava entrevada, principalmente minha coluna. Acho que devia experimentar um pouco o luxo. 

Eu sempre gostei de ir ao cinema, mas  tinha que fazer isso quando a sessão começava e tinha que sair antes de ligar as luzes e tudo acontecer propiciamente num reconhecimento de selfies. Mas quando não podia, não recusava em tirar fotos.
 

Todos os dias, por e-mail, o escritório da jornalista mandava uma compilação de todas as notícias publicadas no país a meu respeito. Quando não estava a fim de me aborrecer, nem lia, porque sempre tem uma ou outra fofoca que me incomodava.

Outro dia, só porque olhava um teste de gravidez, pelo menos para saber se era pesado, foram falar que eu estava grávida. Uma pessoa traíra pegou o celular no maior estilo Black Mirror e me fez ser “a princesa que admirava teste de gravidez: Um possível herdeiro ao distante trono?”. O trono mais próximo a mim naquele momento era o vaso sanitário. Tomei muito iogurte e me esqueci de botar o pozinho contra a lactose, deu no que deu né?

Outro dia também estava com a amiga mensal, vulgo menstruação. Fiquei escolhendo uma marca, porque a que eu usava não tinha na farmácia. Uma pessoa começou a me olhar e eu disse: Eu estou muito monstra hoje, então se não quiser ser devorada, é melhor nem me olhar... Gracias!

As pessoas às vezes abusavam da minha santíssima paciência. Eu nem sempre tinha muita ou quase nunca a teria, mas com o trato da jornalista, com a porcaria dos quatro dias para ficar de ligação e acompanhar a minha rotina eu estava praticamente me sentindo num Big Brother com uma pitada de Você Decide e um Trailer do Linha Direta, com um impacto do “Hoje no Globo Repórter”.

 Eu deveria atender todas as ligações, mas nem sempre conseguia e para isso, deveria retornar ou poderia pagar uma prenda.

Na quinta-feira do dia quatro de outubro, às 16:00 horas eu fui gravar um programa de auditório para o público jovem. Não vou mentir, eu até gostei, mas tive que atender uma ligação da Cecília me perguntando: Oi, Amanda! Tudo bem?

-Tudo sim. E você?

-Estou bem. Gostaria que me respondesse como está sendo esse primeiro programa de auditório.

-Eu estou achando esplêndido! Pena que o camarim não tem pão de queijo. – e sorri.

Ela perguntou: Mas não é intolerante a lactose?

-Eu ponho um pozinho que ajuda na digestão da enzima da lactase.

-Ah, isso é fantástico! Aproveite então a entrevista. – Ela falou em tom alegre.

Eu me despedi agradecendo.

E parti rumo ao mundo dos sonhos de uma subcelebridade.

A entrevista foi de boa. Não havia nada de novo no que perguntaram. Eu achei inclusive muito divertida a brincadeira de dublagem simultânea.

E no mesmo dia eu recebi um convite de um estúdio de dublagem para dublar uma animação.

 E... É, aceitei.

Ás oito e quarenta e cinco, do mesmo dia, Cecília me ligou. Não pude atender. Só pude retornar às nove horas. Pedi desculpas por não ter atendido antes, ela foi gentil em dizer que estava “tudo bem” e entendeu que por motivos de sono, eu acabei dormindo no carro e não consegui ver a chamada.

 Ás 10, ela me liga novamente perguntando se havia alguma novidade. Eu disse que fui ao médico e ele me disse que eu tinha que fazer exercícios, estava um pouco esbaforida, mas ainda assim estava amando dançar em meu quarto feito uma louca e sozinha, no último volume. Depois tive que ir arrumar minhas coisas para embarcar para o nordeste e fazer uma matéria sobre corrida de bugie. Eu iria participar de uma competição que envolvia diversas pessoas famosas e quem ganhasse o prêmio teria que doar para uma instituição local. Eu não ganhei, mas foi ótimo ter participado.

Ela ligou às dezesseis horas do dia seguinte. Caiu na caixa postal e presumiu que eu estivesse no avião voltando para casa. Eu retornei às cinco horas e ela presumiu que eu estivesse no aeroporto por ouvir uma enorme gritaria e eu disse: Yes, miss.

 A gritaria nem era para mim e sim para uma cantora pop adolescente que estava embarcando, mas quando as pessoas me viram, começaram a gritar meu nome e eu saí desfilando e fazendo acenos, o motorista sorriu e disse: É um bom momento para ser miss, senhorita Amanda.

E eu disse: Me segura.

Cecília ouviu aquilo e disse: Nem sempre os holofotes estão para uma princesa a todo tempo, que tal eu ligar às sete da noite?

Eu disse: Apropriado, Cecília. Muito obrigada!

Deixei o telefone cair sem querer, demorei cinco minutos para achar. Fiquei com raiva quando tiraram fotos minhas e eu estava procurando o celular e saiu na mídia: A princesa se esconde dos seus fãs.

 Mas que cocô! Eu tava procurando a caquinha do meu celular naquele estrume de carro!

E assim, eu fui para casa. Tomei um banho, joguei pôquer com minha mãe e ela acabou ainda ganhando cem reais na aposta.

Cecília me liga e eu atendi. Disse que estava passando o tempo com a minha mãe. Ela perguntou o tipo de atividade e eu disse: Um bom e velho carteado.

Ela achou maravilhoso.

Ás doze horas, madrugada de sexta para sábado, Cecília me ligou dizendo que eu conseguiu um jatinho fretado para a minha entrevista para o Rio. Eu economizaria tempo e dinheiro. Além do mais eu teria mais tempo para dormir. Já que se passasse mais tempo em um lugar distante do meu próximo compromisso não conseguiria fechar os olhos facilmente.

Ás doze horas do sábado, numa bela tarde carioca, eu ainda estava passeando pela praia. Cecília me ligou e eu estava na caixa postal dizendo que atenderia um pouco depois.

 Retornei às três e quarenta. Além do passeio no Rio e de uma gravação num programa de TV, eu iria para o aniversário de uma amiga muito especial e não poderia perder a chance de ser feliz no zero oitocentos. Eu falando assim até parece que sou morta de fome, mas o melhor dos aniversários é que você pode comer de graça, mesmo levando presente (ou não) e quando leva o presente, leva uma “lembrancinha” que não vale muito. Mas sempre vale às intenções, pelas quais muitas delas que se dizem boas, a morada de Lúcifer está cheia. 

Às oito horas ela me liga e eu digo que estou na festa da minha amiga, friend. E não poderia atendê-la àquele momento e peço para ligar mais tarde. Acho que ela não entendeu que eu queria que ela ligasse apenas amanhã.

As doze ela me ligou e eu nem retornei. Ainda estava na festa e provavelmente depois ela já estava dormindo.

No próximo dia, eu fui para um programa de auditório ao vivo julgar famosos pela forma como dançaram. Era uma coisa que eu detestava julgar, pois não sabia dançar. Acabei premiando todo mundo com a nota máxima. Fiz isso para não passar vergonha.

No domingo, ela me ligou às 13 horas, mas eu ainda estava dormindo.

Ás três da tarde eu retornei contando o quanto foi boa a festa e também minha participação no programa de auditório. Disse que também fui chamada para uma reunião na emissora. Eles queriam que eu participasse de uma gravação na novela por uma semana. Eu iria fazer o papel de uma socialite muito chata que acabava ajudando a mocinha da novela. É claro que eu topei porque a coisa era muito sintônica. Ela disse que foi uma ótima escolha e eu agradeci, dando tchau e um beijo.

Cecília me mandou um e-mail sobre como estava construindo o meu diário de bordo por telefone. Até que estava ficando bonitinho o texto.

Na segunda-feira, às dez e meia da manhã, Cecília me ligou. Eu estava ainda no Rio me preparando para a gravação da novela. A voz dela era muito agradável e simpática. Estava no meio de uma reunião com o diretor, o que seria gravado em uma semana, aconteceu em um dia e meio. Foi muito louco ficar em uma cidade cenográfica por horas e fingindo que aquela era uma realidade, mesmo que paralela.

Ás uma e quarenta eu estava almoçando com pressa juntamente com o elenco. Eles estavam me dando dicas e me elogiando sobre minha atuação. Cecília me liga bem no meio de uma conversa com o Rodrigo Santoro. Por incrível que pareça eu jamais imaginaria que teria uma conversa com o Rô, mas ele era meu amigo e hollywoodiano, teria muitas dicas.

Ás oito horas ela me liga novamente, estava me arrumando para um jantar. Ela questiona e eu digo que era com o elenco. Ela disse que ligaria amanhã e eu questionei: Mas não eram apenas quatro dias?

E ela falou: Não, querida. São sete dias.

Eu disse “tudo bem” um pouco chateada no tom de voz por ter entendido errado e ter aceitado (o que era uma péssima mania), mas resolvi continuar.  E então me despedi dizendo até amanhã.

Na terça-feira, ela ligou e eu estava estudando sobre biotecnologia. Pedi para ela ligar mais tarde falando baixinho. Ás cinco horas ela liga novamente e eu ainda estava estudando e contei que assim que terminasse iriamos conversar. Ela disse bem-humorada que “beleza”.

 

Na quarta, Cecília me liga e pergunta se a equipe da revista vem conversar comigo. Ela tenta desconversar falando sobre o que eu estava fazendo naquele momento, eu também desconverso falando que não estava fazendo nada de interessante e só iria à rádio participar de uma entrevista e ponto final. “Será que ela quer me ajudar ou simplesmente ter o controle da situação?”

Quando ela me ligou às cinco horas da tarde, eu estava dirigindo e disse: Oi Cecília! Estou fazendo uma coisa errada agora...

-É mesmo? Que tipo de coisa?-Pergunta curiosa.

-Estou falando com você e dirigindo. – e começo a rir.

Ela também sorriu.

Ela aproveitou aquilo para falar de redes sociais. Eu disse que tinha, mas mal costumava usar. Se eu dissesse que usava com frequência a conversa iria se esticar e fazer isso no trânsito não era legal.

Falei que estava indo assistir um show de Folk em uma casa de shows em São Paulo. E disse também que já havia encerrado minha participação na novela e que o jantar foi excelente com o grupo de atores.

A gente se despediu e desligamos.

E às dez e meia, nos falamos, mas eu disse que estava tão cansada que preferia dormir, talvez eu fui ao show certo no momento errado.

Ela me explicou que aquela era a última ligação e que eu devia contar toda a experiência. Eu disse que às vezes as coisas se tornavam um pouco invasivas, mas isso não aconteceu na nossa experiência de Big Brother por ligações. Acredito que foi algo inusitado até fazer ligações num momento tão agitado de redes sociais e mensagens via texto ou áudio. Foi legal conversar um pouquinho das experiências de cada dia e realmente fazer o princípio do Carpem Diem valer a pena.

 

TEXTO PARA A REVISTA: 


Quem é Marília?

Talvez você se pergunte: Existem várias Amandas pelo mundo, ela deve ser só mais uma, não? Com certeza, não!  O significado de Marília vem do poema de Dirceu e significa “doce e amarga”. Talvez essa moça ainda não saiba o quanto ela representa, mas sabe a pressão social do que ela representa. Marília é uma princesa, não só no sentido literal, mas por tudo o que ela carrega. Sua vida depois dessa descoberta tornou-se algo altamente louco. Seguranças, fotógrafos, atividades comuns sendo feitas em um turbilhão de matérias (e muitas até um tanto mentirosas). Conversei com Marília durante sete dias por telefone, foi uma forma de escrever melhor sobre ela. E contar como é uma rotina de quem está crescendo sob os holofotes, sem deixar que esse turbilhão de flashes apague sua sensatez, ao se manter bastante solícita em muitos momentos. Mesmo quando não podia atender as minhas insistentes ligações, ela retornava, muitas vezes, ela deixava cinco minutos de aproveitar o seu tempo presente só para falar comigo. Talvez as pessoas pensem: Mas é isso que ela tem que fazer, pois não é mais que sua obrigação. Na realidade, não é! Marília não tinha que retornar ligação nenhuma, ela simplesmente poderia inventar qualquer desculpa, mas ela mostrou-se preocupada com a sua palavra. Talvez etérea não seja o epíteto perfeito para Marília, pois ela é muito acessível. Ela é uma menina que têm muitos sonhos e uma vida enorme pela frente e que adora aproveitar cada segundo, até mesmo, ajudando aos outros em momentos que a maioria esquece. Ela gosta de jogar carteado com a sua melhor amiga, assume a culpa (ressaltando o quanto é grave) dirigir falando ao telefone e devo dizer que a culpa também foi minha. Quando perdeu seu telefone no meio a uma viagem no carro e saiu procurando, não queria se esconder de ninguém, apenas ela também se atrapalha. A princesa etérea na realidade nunca existiu e o etéreo está muito longe da vida dessa garota, que é uma pessoa bem a frente de seu tempo e que também, já pode começar a investir em seu lado artístico. Marília faz jus ao seu nome, porque saber que a dualidade é importante, mesmo quando o tempo é traiçoeiro, é uma tarefa para poucos ser amável. Continue a aproveitar Mari, a vida é muito mais que sete dias de ligações e se ninguém quiser acreditar nisso, continue vivendo. Viver é melhor que existir e, se existem pessoas que não acreditam, elas já deixaram de viver suas vidas há muitos séculos e enclausuram os outros em redomas de vidro inexistentes.


Ainda estou consciente e respiro e se isso é o bastante para seguir viva, eu protestarei da minha melhor forma: Escrevendo o meu diário de bordo da liberdade de expressão. E relembrando o que fui e ainda sou. 

XOXO, 

MM's. 





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